O Orkut voltou

O site do Orkut voltou nessa quarta-feira e causou alvoroço nas redes! A nostalgia tomou conta da web, principalmente por conta das comunidades, ponto forte da plataforma. Com uma mensagem de seu fundador afirmando que pretende retornar com novidades, o domínio Orkut foi reativado, mas a rede social — criada em 2005 e primeira de grande alcance, que cativou os brasileiros, mas já estava há oito anos fora do ar — ainda não está acessível a usuários. Sem dar detalhes do que virá, seu criador, então engenheiro de software da Google, o turco Orkut Büyükkökten, despertou saudade nos antigos usuários e curiosidade em várias gerações.

— O Orkut foi a maior rede social do Brasil, chegando a reunir aproximadamente 300 milhões de usuários e representar metade dos usuários dessa rede no mundo. Foi no final de 2011 que perdeu a liderança do ranking das redes sociais para o Facebook — lembra Marcelo Ramos Cerqueira, professor de Marketing da Universidade Candido Mendes (Ucam).

Quem usou a rede social certamente recorda algumas das comunidades das quais participava. Segundo Marcelo, essa era a principal ferramenta do Orkut, nas quais as pessoas com interesses em comum se reuniam e eram estimuladas conversas a respeito de temas específicos. O Facebook então surgiu como um ambiente mais “descolado”, com o usuário, suas atualizações e atividades no centro da interação, e foi adotado pelas pessoas com maior poder aquisitivo. De lá pra cá, muitas mudanças de comportamento e novas tendências virtuais surgiram, como as dancinhas e trends. E a pergunta é: o que o Orkut terá como novidade?

— Será que vai ser possível resgatar contas antigas? Acho que as pessoas vão entrar novamente no Orkut por curiosidade, pois a marca ainda é muito forte na memória dos brasileiros. Mas vivemos um momento em que as redes sociais são de nicho e cada vez mais com propósitos diferentes. Então o Orkut vai precisar ter um diferencial competitivo para manter as pessoas ali — aponta Victor Azevedo, professor de Marketing e Criatividade do Ibmec, lembrando que ter sido comprada pelo Google pode ser uma vantagem para a plataforma

— Os influenciadores ajudam e muito a levar e engajar o público em determinada plataforma. Além do conteúdo orgânico e com influenciadores, as marcas também impulsionam anúncios pagos nas redes — garante Fabrizio Galardi, sócio-diretor da agência Stage Digital, que conecta influenciadores e marcas, explicando que a rede precisa pensar neles: — Disponibilizar formatos interessantes para os creators fazerem entregas bem segmentadas para a audiência.

Das ferramentas que já existiam, Fabrizio vê as comunidades com potencial para receber publicidades:

— Pois reúnem tribos de diversos nichos e segmentos, com sinergia ao posicionamento de muitas marcas.

Segurança de dados e combate às fakenews
Além de atrair usuários, o Orkut precisa se preocupar com novas demandas do mundo virtual. Carlos Afonso de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), diz:

— O Orkut lembra um tempo em que as redes sociais ainda não enfrentavam os fenômenos da desinformação e dos discursos tóxicos. Não existe garantia que essa nova interação do Orkut não acabe caindo nas mesmas armadilhas que outras redes caíram ao privilegiar o engajamento que publicações polêmicas, e potencialmente ofensivas, podem causar. Seria muito ruim se as nossas memórias de uma experiência mais inocente e divertida sobre o que significa estar on-line acabarem sendo confrontadas com uma realidade bem diferente que se vive hoje em 2022 — diz Souza.

Que acrescenta: — Esperamos que o Orkut, se voltar para valer, possa empregar as melhores práticas de gestão de conteúdo, combate à contas automatizadas e desinformação para fazer valer a promessa de toda rede social que é promover uma comunicação global e acesso à informação e entretenimento.

Segurança de dados, combate a fakenews e a discursos de ódio são alguns dos temas centrais na internet atualmente. E Marcio Gonçalves, docente da Estácio e especialista em Mídias Digitais, acredita que os próprios usuários vão cobrar por medidas para lidar com isso.

— No cenário em que o usuário vê nas redes sociais a possibilidade de proliferar discurso de ódio gratuitamente, se não houver controle, a cobrança por regras mais rígidas de controle virá mais cedo ou mais tarde. O Orkut foi sucesso no Brasil em uma época sem muitas regras de uso da internet. Agora o discurso é outro. Parte da sociedade está mais letrada midiaticamente. As plataformas estão sendo cobradas de moderar proliferação de fake news e de desinformação — pontua Marcio Gonçalves, docente da Estácio e especialista em Mídias Digitais.

Leia depoimentos de usuários antigos e de influenciador
‘Vai dar uma nostalgia’

Para o professor de educação física João Marcos Veras, de 25 anos, lembrar da adolescência é recordar os mergulhos no universo do Orkut. As interações sociais na internet, antes da era dos smartphones, surgiam na troca de depoimentos no perfil de amigos, dar risadas com Buddy Pokes e lutar pelo domínio em jogos interativos, como Colheita Feliz.

Mais de dez anos depois, recorda com carinho a primeira imersão nas redes sociais com o Orkut e conta os minutos para ver quais novidades vão surgir nessa nova era da plataforma.

— Era um lugar de socialização que a gente começou a ter e faz muita falta, porque hoje em dia não é a mesma coisa. A gente tem Facebook há tanto tempo que nem lembra mais como era um Orkut, e voltar para isso vai ser muito diferente, mas vai dar uma nostalgia.